Mulher Mundo
Alexandra Haynak por Pixabay |
Nas minhas noites solitárias, era muitas vezes visitada por uma mulher.
Mesmo antes de a ver chegar, muito ao longe e ainda baixinho, ouvia os rolamentos do seu carrinho de compras pelo qual sempre se fazia acompanhar. Refiro, que não havia nada de atraente nesta mulher. De aparência franzina mas de passo assertivo, voz rouca e enérgica, fazia-se notar a sua chegada. Muitas vezes me perguntei qual seria a sua verdadeira história.
Um dia ao tomar café com uma amiga numa esplanada, notei a sua presença do outro lado da rua. Ela e o seu carrinho na longa caminhada. Penso agora que deve ter sido sempre assim...solitária na caminhada mas feliz. Digo feliz, porque se fazia adivinhar as curvas de um sorriso a cada flor que olhava no chão, a cada pessoa que via passar. Digo, solitária porque o seu aspeto fora do comum, um quanto peculiar, afastava muitos dos olhares curiosos da vida. Lembro-me de a ouvir falar várias vezes na fome em África, nas políticas de esquerda, nas conspirações mundiais, na falta de afetos dos que observava na rua, no desequilibro do Mundo.
Lembro-me de pensar e observar um mundo inteiro através dos seus olhos. Olhos esses de uma mulher sem medo, sem nada a perder, daquelas que te encara com a alma e te assusta com tanta certeza do que é! Lembro ainda da sua gargalhada sonora e que incomodava os demais, por ser tão alta, por ser tão forte e verdadeira.
Não foi certamente das meninas criadas para ser a "bela", nem vive num conto de fadas... Atribuir-lhe um personagem seria no mínimo uma guerreira, que abraça o Mundo com o seu carrinho cheio de histórias e memórias.
Posso imaginar essa mulher e o seu carrinho a atravessar os desertos do Yemen, debaixo de bombas, levando alimentos aos necessitados, tendo ela se calhar tão pouco para se alimentar. Um personagem feminino de super poderes no trato, na simpatia na alma mas sem capa.
O que me volta a recordar da grande e única questão, qual será a verdadeira história desta Mulher Mundo?
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Obrigada pelo teu interesse no Livro Negro.
Patrícia Barbosa - Polvoz