Sorri
As cartas de amor que te escrevi ganharam mofo atiradas para a gaveta, as palavras, aquelas, sabem a mofo junto com os recortes dos jornais que fui colecionando. Longas paisagens que um dia visitaríamos .
Do auto da tua arrogância pensaste que nunca serias substituído, que as pessoas não se substituem, não se trocam como a mercadoria . Esqueceste que o tempo, como diz o outro, o tempo rouba-nos tempo ao nosso tempo . Fomos roubados vejo agora, assaltados mesmo em frente ao nosso nariz, vandalizaram-nos os sentimentos a esperança as recordações , e nós nem demos por isso, convencidos que as palavras nunca teriam um leve travo a mofo.
Chama a polícia agora, diz-lhes que nos levaram , que nos tiraram a identidade que substituíram os sentimentos por maldade .
Naquelas palavras, via nascer rosas e flores e sol, e tu descartaste-as...atiraste-as para a gaveta.
Pois agora sorri ao ver me sorrir-lhe, sim sorri, vá lá sorri, porque eu sorrio ao vê-lo chegar, ele chegou devagarinho ao meu caminho e eu enlacei o meu passo no dele, , de braço dado de sorriso aberto. Ele sim cheirava a rosas e recordações, ele sim tinha aquele brilho nos olhos , ele sim...e isso bastava-me. Ele tirava palavras do bolso como se não fosse nada , e elas as palavras rodopiavam à minha volta , e eu bebias , bebias até me sentir embriagada por elas, embriagada por ele ...vá lá sorri , tu que sempre viveste nesse pedestal, sorri porque o meu caminho é longo e eu não quero mais olhar para essas palavras velhas , repetidas até à exaustão, já sem porque nem porquê!
Abre essa gaveta e vasculha com o polícia atrás de ti, diz-lhe que me roubaram que me roubei, que fugi que conquistei e no fim sorri, por favor sorri porque ao vê-lo eu sorrio também.
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Obrigada pelo teu interesse no Livro Negro.
Patrícia Barbosa - Polvoz