A Menina
#desfioliterario3
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A matriarca da casa acorda com as galinhas, o velho hábito de caminhar até ao pequeno postigo e ver o início de mais um dia. Estava sol, sorria ao tempo e voltava pra dentro. A matriarca, velha senhora de bons costumes fazia a sua higiene pessoal e sorria ao contemplar-se ao espelho, um puxo de cabelo branco acusando o passar do tempo, três voltas ao elástico e emoldurava o seu rosto no jeito habitual do dia a dia.
Adelaide, assim se chamava a velha senhora, punha a andar no forno o preparado da noite anterior, enquanto cumpria o ritual do café com leite clarinho e os dois pães com manteiga.
O cheirinho a pão de ló saía do forno tomando conta da casa.
No pequeno quarto junto á cozinha despertava por fim a menina da casa, punha os pés no chão ainda meia atordoada entre o sonho e realidade. Esfregava os olhos e abria a boca em jeito de saudação à manhã que se ia desenrolando.
Assim que se dava conta do cheirinho que circulava no ar, corria para a cozinha ao encontro da mãe. Os seus olhos arregalam-se ao ver o papel branco que adornava o doce.
Sentada num banquinho de madeira com as pernas a baloiçar via sua mãe retirar com cuidado o papel amarrotado, partir delicadamente uma fatia e estender-lha com um sorriso.
Embebida naquele sabor doce, escorregava pelas dobrinhas do papel branco para o seu mundo de fantasia. Aterrava com os pés firmes no chão das lembranças, e dançava ao som das músicas que as paredes cantavam. Abria a porta da imaginação e corria pelos campos de flores. Quando cansada encostava-se a uma árvore é ensinava os pássaros a ler, ria com eles das histórias que juntos construíam. Via o pôr do sol rodeada daquela felicidade imatura e ingênua que caracterizava a sua idade.
Todo o seu corpo vibrava com uma luz de felicidade pelas pequenas coisas. Os cantos dos pássaros, o quente do sol, o sabor do vento na cara, o cheiro dos livros, o entusiasmo de estar livre, de ser livre em pensamento.
Só despertava deste transe com a presença da mãe, que com gestos repetitivos, verificava cada bolsa da mochila pra se certificar que a pequena menina tinha tudo para o seu dia. Acabava de engolir o restinho do café com leite e pulava para o chão pra ser adornada com a sua mochila. Arranjava o seu puxo de cabelo castanho claro e olhava para cima para o outro puxo de cabelo branco de sabedoria. Era altura de dar as mãos e partir para mais um dia de escola.
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Patrícia Barbosa - Polvoz